Li Yong Xiang é um artista que tem como primazia o fazer com as mãos, alinhando técnicas artísticas tradicionais com um pensamento esquemático sobre as estruturas e os regimes de poder. No conjunto de obras comissionado pela 14ª Bienal do Mercosul, Li nos faz imergir em um universo poético que equilibra uma fabulação visual mediada pela pintura e pela tridimensionalidade, com referenciais científicos, precisamente através dos antigos estudos ocidentais de anatomia.
Ao recorrer a uma técnica que utiliza dobradiças e pedaços de madeira finamente cortados e adornados para construção de objetos articulados com diversas faces, o artista faz um paralelo técnico com a forma invasiva como a medicina ocidental manipulou, fragmentou e classificou usualmente corpos marginalizados com a justificativa da cientificidade. A cabeça surge em diversos momentos nas obras de maneira fabulada, torcida e onírica, fugindo de um padrão de representação puramente científico justamente para argumentar sobre como essa parte do corpo foi autorizada a ser esmiuçada por ser geradora de um “conhecimento profundo”.
Li Yong Xiang (China, 1991) recorre em sua prática a uma diversidade de mídias. Seu principal interesse, no entanto, está nas interseções transfronteiriças entre pintura, escultura, música e vídeo. Influenciado por uma compreensão recíproca da cultura e da experiência da diáspora, o artista desafia ideias de soberania e estruturas de poder existentes ao se envolver em contaminações que visam especificidades midiáticas, formais e culturais. Utilizando-se de técnicas associadas a tradições da pintura chinesa, o artista aborda diversos temas existenciais contemporâneos como o desejo, a morte, a solidão e o silenciamento. Exposições individuais e coletivas recentes incluem a Kunsthalle Mannheim, Bienal de Gotemburgo, Antenna Space (Xangai), dentre outros. Vive em Berlim, Alemanha.