Programa Educativo
O projeto pedagógico da Bienal do Mercosul tem afirmado, ao longo dos anos, seu papel formador de profissionais de arte-educação.
Atraindo estudantes e professores dos mais diversos campos de conhecimento, o educativo possibilita espaços de imersão e intensa experimentação dentro da rede de instituições culturais da cidade de Porto Alegre, irradiando conhecimentos e práticas que têm impactado o campo da educação museal, da educação com arte e para arte, em todo o Brasil.
O programa educativo da 14ª Bienal do Mercosul se desdobra em atividades (como seminários, rodas de conversas, cursos de formação para professores e mediadores) e na produção do material pedagógico. Tais ações pretendem estender os diálogos do público com as pesquisas artísticas em exposição e propor reflexões sobre arte e educação, mediação e pedagogia, a partir dos conceitos propostos pela curadoria geral e pela curadoria educativa.
A totalidade de nosso projeto educativo se constitui no entrelaçamento de três conceitos base:
Estalo
Assim que o curador chefe Raphael Fonseca mencionou, em 2024, a palavra estalo como título para esta edição da Bienal, instantaneamente este som provocou ação em nossos corpos: logo estávamos friccionando a ponta dos dedos como que em busca de decifrar a tal palavra. Mas não apenas isso. O Estalo anunciado internamente para a equipe curatorial, ainda no início do projeto, teve também o efeito de uma força propulsora em nossos movimentos de trabalho. Deste primeiro impulso se seguiram as escolhas das obras e artistas que integram a mostra, as visitas aos espaços expositivos em Porto Alegre, e, no caso da curadoria pedagógica, o início das pesquisas sobre artistas, a busca de referências bibliográficas, o contato com professores, escolas, possíveis colaboradores. Estalo, um vocábulo de implicações tão físicas, que flerta com o som, com a energia, com o movimento do corpo, nos conduziu a pensar e desejar que os conceitos e fundamentos adotados pelo educativo fossem também provocações para o corpo e seu movimento dentro das salas de aula e outros espaços de aprendizagem .
Roda
Como curadoras educativas, decidimos também adotar um termo-chave. Não como um título, mas como tentativa de nomear nosso jeito de fazer, estabelecer o modus operandi do projeto: roda. A disposição circular de pessoas dentro de dinâmicas sociais afro-brasileiras, como a do samba e da capoeira, nos instigou a refletir sobre o que nos ensinam essas manifestações e seu formato a respeito de espaços de aprendizagem e de trabalho menos marcados por hierarquias, linhas e colunas, onde todas as pessoas podem se ver e se sentir igualmente convocadas à participação; o que nos ensinam também, a respeito de processos de aprendizado que convocam a participação integral do corpo, a inteligência de seu movimento e o conjunto dos sentidos. Roda é uma forma de fazer: conjunção de muita gente, jogando, dançando, cantando, aprendendo. A roda é um convite de estar com.
Giro
Esse vocábulo tão caro ao histórico da Bienal do Mercosul (pelo menos desde sua 6ª edição e do pronunciado Giro Educativo ou Virada Educacional) estabeleceu uma chave de leitura sobre o que tem sido feito ao longo de todas as quatorze edições da mostra: a Bienal do Mercosul é uma Bienal educativa. Educativa em um sentido nada formal ou padronizador: a disponibilidade para troca de saberes - entre educadores, instituições, artistas, agentes culturais, estudantes, público, trabalhadores dos espaços colaboradores, turistas (e uma lista infinita de encontros possíveis e improváveis que se intensificam durante os 2 ou 3 meses de uma bienal)- exige estruturas permeáveis de fala e escuta, bem como a sensibilidade às muitas demandas de um fluxo que, neste ponto, facilmente chega à marca de 800 mil pessoas. Por isso, chamamos de giro a estratégia de trazer à tona a discussão sobre educação museal e a dimensão invisível de um corpo educativo: a energia, o esforço e o descanso implicados nesse projeto. Nesta jornada, temos girado para trás a fim de pegar impulso, acessando a memória dos projetos educativos de bienais passadas, reconhecendo o que herdamos desta genealogia- bem como o que nos escapou. Temos girado para frente, na expectativa de ver nascer outras possibilidades de viradas educativas, desta vez criadas também por mediadores e professores. E girado em outras tantas direções, para ouvir e entender da realidade das equipes educativas atuantes em aparelhos culturais da cidade de Porto Alegre e de outras regiões do país. Em suma, o giro quer ser o movimento de debate sobre a própria condição da educação museal e do impacto, nas instituições, de eventos desta dimensão. Um debate no qual o papel da Bienal do Mercosul é indispensável.
Preparamos este projeto em roda, feito a muitas mãos, aberto como uma arena de diálogo, de jogo, de dança onde sempre cabe mais uma pessoa. Que esta Bienal propicie conversas sobre arte e reflexões sobre a vida dentro da escola, no espaço expositivo, na rua, na praça, nas casas. Desejamos bons giros!
Andréa Hygino e Michele Zgiet
Curadoras Educativas da 14ª Bienal do Mercosul

Roleta: giro de ideias
SEMINÁRIO DE CONVERSAS ABERTAS AO PÚBLICO
A série de quatro encontros parte dos princípios do nosso projeto pedagógico, baseado na tríade “estalo - roda - giro”. As conversas propõem reflexões sobre o fazer coletivo, a energia e o esforço que impulsionam o movimento, além das lutas, danças e outras manifestações culturais em roda.