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2º semestre de 2019

O romance Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves é, desde seu lançamento em 2008, um marco na literatura contemporânea brasileira. Mas ele vai além. Estabelece-se como marca porque revela uma herança contínua da colonização e da eleição da sujeição e do direito de posse de humanos sobre humanos.

 

Marco porque estabelece vínculos de uma memória que se acreditava, durante muito tempo, estar perdida e que reaparece como relâmpago necessário na lacuna de um registro sobre onde viemos e de qual lugar surgem nossas raízes. A escravização no Brasil não pode ficar relegada a experiência do passado. Antes disso, ela é elemento que atravessa nossas maneiras de pensar e de existir em uma sociedade assimétrica e, muitas vezes desumanizadora. No entanto a obra desenha, inscreve, rasga lugares para ver a existência negra no século XIX brasileiro. Há ali negros que leem e criam estratégias de aprendizado, há o centro urbano tomado por homens e mulheres que se deslocam e negociam suas liberdades e aprisionamentos, há a vida da Bahia, do Maranhão, do Rio de Janeiro, de São Paulo.

Há sobretudo uma mulher que acende a própria vida, ascende e atende sob o nome de Kehinde. A personagem empreende de Savalu até o Brasil, dos Brasis até as Áfricas e Europas. Inventa formas de vida, olhos de ver e ser vista, morre algumas vezes, vive muitas, aprende e ensina. Kehinde é a mulher negra com suas táticas de existir: a astúcia, a atenção, o olho atento ao afeto não distante da luta e dos saberes. É a capacidade criar territórios a cada chegada. Em uma mostra, no Sul do mundo, como a Bienal 12, que toma como ponto de partida e de chegada os femininos e a arte em seus tensionamentos e possibilidades de invenção, tomar a figura de uma personagem que está entre a vida e a ficção - entre a memória e a escrita de passados necessários e sobre a marca da mulher negra - vai além de uma homenagem. Significa estabelecer que a mulher negra tem poder em diferentes sentidos de ser a imagem de um mundo já vivido e aquele desejado.

Território Kehinde é a porção de um projeto educativo que toma essa mulher negra e suas criações de vidas como ponto do qual se empreende o encontro. Território Kehinde é lugar de mulheres e, algumas vezes, de homens também. Território Kehinde será durante a Bienal 12 tudo aquilo que se baseia no chegar, encontrar e aprender junto. Território Kehinde é uma roda de conversa. Territórios que se abrem em diferentes cidades sempre com convidadas, seus saberes e suas possibilidades de construir ali seus territórios e formas de aprendizado. Kehinde é deslocamento. Deslocamento de conhecimentos, de perspectivas, de certezas e construções do comum, da ordem do que é compartilhado. Kehinde é a imagem e a seta dos encontros que se dão ao longo de 2019 e 2020. Deslocar, conhecer e inventar são palavras que sustentam os territórios que se erguem a partir das vozes de nossas convidadas.

Igor Simões, curador adjunto da Bienal 12

A seguir, elencamos os tópicos de cada vídeo resultante das rodas de conversa realizadas entre os meses de outubro e novembro de 2019.

Território Kehinde

Ana Maria Gonçalves, Izis abreu e Dedy Ricardo

Os Femininos e o Pensamento Curatorial da Bienal 12

Andrea Giunta e Fabiana Lopes

Educativos, Mostras e Docências em Artes: Lugares de Criação

Celina Alcântara, Luciana Loponte e Carmen Capra

As Instituições de Arte e os Educativos

Mônica Hoff, Carla Batista e Marga Kremer

Mediações e Mediadores, Professoras e Professores

Larissa Fauri, Carol Mendoza e Mônica Hoff

A Sala de Aula como Espaço de Criação e Sabotagem

Estêvão da Fontoura e Carmen Capra

Raça e Artes Visuais em Terra Brasil

Xadalu e Renata Sampaio

Território de Mulheres Negras e a Arte

Izis Abreu e Dedy Ricardo

Artes, Femininos e Pensamentos Contemporâneos

Mitti Mendonça e Daniela Kern

Femininos e Cultura

Joanna Burigo, Winnie Bueno e Fernanda Bastos

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