A prática artística de Gladys Kalichini se concentra em três temáticas principais: história colonial, marginalização e memória, principalmente com relação a narrativas de mulheres, que estiveram ausentes da memória coletiva em contextos africanos. Na videoinstalação Sepultamento: apagando o apagamento (2017), na qual a artista encena uma prática de sepultamento zambiana na qual algumas das pessoas em luto são cobertas com um pó branco (chinbuyaring), Kalichini propõe a criação de um contexto para experiências pessoais e compartilhadas de luto e rememoração, ao mesmo tempo dedicando um espaço para tratar a questão da perda/desaparecimento de histórias de mulheres de importância histórica — como é o caso de Alice Lenshina (n.1920 - m.1978) e Julia Chikamoneka (n.1910 – m.1986), figuras importantes durante a luta da Zâmbia pela independência no início da década de 1960, cujos papéis foram parcamente registrados ou reconhecidos pelas narrativas oficiais. Ao criar um lugar de luto e ritual e evocar as narrativas de mulheres de relevância histórica, este trabalho também se propõe como um gesto de luto para mulheres simples da atualidade cujas histórias já foram apagadas ou estão em processo de desaparecimento.